COVID-19: Como o isolamento na pandemia pode estar afetando nossa memória - Psicólogo Mogi das Cruzes | Bruno Moraes
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COVID-19: Como o isolamento na pandemia pode estar afetando nossa memória

COVID-19: Como o isolamento na pandemia pode estar afetando nossa memória

Muita gente desenvolveu uma rotina de isolamento durante a pandemia — e, ao que parece, isso não é muito bom para nossa memória

Se, desde o lockdown, você tem sentido dificuldade de lembrar de enviar e-mails, de encontrar a palavra certa ou, mais uma vez, se esqueceu de comprar leite — você não está sozinho. Perdi a conta do número de vezes que ouvi amigos reclamando recentemente de como suas memórias pioraram.

É claro que isso não é evidência científica, e é cedo demais para uma pesquisa comparando nossa capacidade de memória antes e depois da pandemia de covid-19.

Mas em um questionário conduzido pela Alzheimer’s Society, metade dos familiares afirmou que a memória de seus entes queridos piorou depois que eles começaram a viver mais isolados.

As restrições de socialização em lares de idosos e, em alguns casos, a proibição de qualquer visitante por vários meses parecem ter cobrado um preço alto.

A Universidade da Califórnia em Irvine, nos EUA, está começando a fazer uma pesquisa sobre como o lockdown afetou a memória das pessoas.

Há relatos de que mesmo aquelas que costumam se lembrar de eventos como comprar um ingresso de cinema 20 anos atrás, porque têm uma memória autobiográfica mais ativa, estão descobrindo que estão esquecendo coisas.

Existem, é claro, vários tipos diferentes de memória. Esquecer o que você pretendia comprar é diferente de esquecer o nome de alguém ou o que você fez na quarta-feira passada.

Mas pesquisas sobre como a memória funciona apontam várias maneiras pelas quais o ambiente restrito imposto pela pandemia poderia estar impactando-a.

O fator mais óbvio é o isolamento. Sabemos que a falta de contato social pode afetar negativamente o cérebro, e que o efeito é mais sério em quem já tem problema de memória. Para aqueles com doença de Alzheimer, os níveis de solidão podem até afetar o curso da doença.

É claro que nem todo mundo se sentiu sozinho durante a pandemia, e os resultados de alguns estudos mostraram que os níveis de sensação de solidão se estabilizaram com o tempo.

 

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A monotonia das chamadas do Zoom, geralmente na mesma tela dia após dia, torna difícil distinguir entre as reuniões

 

Mas mesmo que a gente não se sinta angustiado com a redução do contato humano, muitos de nós ainda estamos vendo menos pessoas do que o normal. Estamos perdendo aquelas conversas no café do escritório ou em festas onde podemos bater papo com dezenas de pessoas em uma noite, trocando ideias sobre o que temos feito.

A repetição de histórias nos ajuda a consolidar nossas memórias do que aconteceu — as chamadas memórias episódicas. Se não podemos nos socializar tanto, talvez não seja surpreendente que essas memórias não pareçam tão claras como de costume.

Quando temos a chance de conversar, também temos menos histórias para contar. Como viagens são canceladas, casamentos são adiados, shows e eventos esportivos acontecem sem a presença do público, temos menos sobre o que falar. E as lamúrias no trabalho são principalmente sobre as frustrações da tecnologia nos deixando na mão.

É verdade que você pode compensar socializando mais online. Mas essas conversas não são exatamente as mesmas. É menos provável que você mencione fatos “irrelevantes”.

Para valer a pena preservá-la, sua história precisa valer a pena ser contada. Se o seu nível de exigência para o que é considerado interessante o suficiente para ser dito aumentou, então, mais uma vez, você deixa de enfatizar essas memórias.

Mas há algo além da falta de socialização. Muitas pessoas mencionam agora uma sensação de ansiedade. Mesmo que você agradeça a sorte que tem, já que outros estão em situação pior, pode ser difícil se livrar da sensação de que o mundo se tornou um lugar mais incerto.

Na University College London (UCL), a psicobióloga Daisy Fancourt e sua equipe têm realizado pesquisas sobre como as pessoas se sentem durante a pandemia no Reino Unido.

Embora os níveis de ansiedade tenham atingido o pico quando o lockdown começou e tenham diminuído gradualmente, a média permaneceu mais alta do que em tempos normais, especialmente em pessoas que são jovens, moram sozinhas, vivem com filhos, se mantém com baixa renda ou habitam áreas urbanas.

 

Covid-19: o impacto negativo da pandemia sobre a memória
Pode ser difícil lembrar certos eventos porque não há muita diferença entre os dias

 

Enquanto isso, o Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido identificou que as taxas de depressão dobraram.

Sabe-se que tanto a depressão quanto a ansiedade têm impacto na memória. As preocupações sobrecarregam nossa memória de trabalho, nos deixando com menos capacidade disponível para lembrar de listas de compras ou do que precisamos fazer no trabalho.

Tudo isso se torna ainda mais difícil devido à falta de pistas para auxiliar nossas memórias. Se você sai para trabalhar, sua jornada, a mudança de cenário e as pausas que você faz pontuam o dia, dando a você marcações no tempo para ancorar suas memórias.

Mas, quando você trabalha de casa, cada reunião online é muito semelhante às demais, porque você tende a se sentar exatamente no mesmo lugar, em frente à mesma tela. Há menos coisas para marcar suas memórias e ajudá-lo a distingui-las.

“Tentar lembrar o que aconteceu com você quando há pouca distinção entre os diferentes dias, é como tentar tocar um piano em que não há teclas pretas para ajudá-lo a se encontrar”, afirma Catherine Loveday, professora de neurociência cognitiva da Universidade de Westminster, em Londres.

Assim como os dias se fundem em um, as coisas que você faz nesses dias também.

No escritório, você pode passar por uma sala onde teve uma reunião específica, que te faz lembrar que precisava enviar um e-mail para alguém sobre aquilo.

Em casa, não há pistas para ajudar você a lembrar as diferentes partes do trabalho. Cada memória é marcada para ficar no seu computador. No escritório, você pode se lembrar exatamente onde teve determinada conversa — no elevador ou na cafeteria — e isso ajuda a não esquecer.

Há ainda uma fadiga generalizada, que também não ajuda nossas memórias. As reuniões do Zoom são cansativas, alguns trabalhos são muito mais difíceis de fazer de casa, e viagens de férias estão sendo canceladas. A falta de rotina e a ansiedade em relação à pandemia podem perturbar nosso sono. Junte tudo isso — e basicamente estamos constantemente cansados.

Portanto, com essa combinação de fadiga, ansiedade, falta de pistas e menos interações sociais, não é de se espantar que alguns de nós sintam que nossas memórias estão nos deixando na mão.

 

As reuniões no escritório podem ser realizadas em salas diferentes, nos oferecendo diferentes experiências para cimentar a memória
As reuniões no escritório podem ser realizadas em salas diferentes, nos oferecendo diferentes experiências para cimentar a memória

 

E Loveday acredita que há um fator adicional envolvido — que talvez nem tenhamos notado. Diz respeito ao impacto em nossos cérebros e em nossas memórias em particular, de passar o tempo em diferentes localizações geográficas.

Encontrar o caminho de volta para casa sempre foi importante para nossa sobrevivência. Assim que saímos de casa, começamos a prestar atenção. Quer estejamos caminhando em uma floresta ou pela cidade, usamos mais a região do cérebro conhecida como hipocampo.

Você se lembra dos estudos que mostram que motoristas de táxi em Londres conhecem todas as ruas? Esses motoristas acabam com um hipocampo maior.

Precisamos envolver o hipocampo para lembrar informações novas, mas Veronique Bohbot, neurocientista da McGill University, no Canadá, descobriu que, se a vida das pessoas se torna mais confinada e repetitiva à medida que envelhecem, o uso do hipocampo diminui.

Da mesma forma, ela constatou que motoristas que dependem de sistemas de navegação por satélite, em vez de encontrar o caminho por conta própria, geram menos memórias espaciais, o tipo de memória que depende principalmente do hipocampo.

Se ficamos em casa a maior parte do tempo por vários meses devido à pandemia, perdemos aquele estímulo extra que vem de encontrar nosso caminho.

A boa notícia é que há coisas que podemos fazer a respeito. Dar uma caminhada, especialmente em ruas que não nos são familiares, vai trazer a atenção de volta ao cérebro. E até mesmo se mexer faz diferença. Você precisa estar sentado à sua mesa em todas as reuniões? Se for um telefonema, será que você não pode andar pela rua conversando?

Garantir que os dias da semana e os fins de semana sejam diferentes o suficiente para não se fundirem em um só, pode ajudar com as distorções que nossa nova vida pode ter em nossa percepção do tempo.

 

Assim que saímos de casa, mesmo que seja para uma caminhada no parque, nosso cérebro começa a prestar atenção
Assim que saímos de casa, mesmo que seja para uma caminhada no parque, nosso cérebro começa a prestar atenção

 

Loveday aconselha adicionar mais diversidade às nossas vidas, o que pode envolver alguma criatividade. Se você não puder sair, ela sugere encontrar uma atividade completamente nova dentro de casa, e depois contar a alguém sobre ela para ajudá-lo a se lembrar melhor.

Refletir deliberadamente sobre o seu dia todas as noites também pode contribuir para consolidar suas memórias. Você pode até escrever um diário. É verdade que acontece menos coisas dignas de registro atualmente, mas ainda assim pode ser interessante fazer a retrospectiva do dia. Pode ajudar sua memória.

E, se você está se esquecendo de fazer alguma coisa, então criar listas e botar alertas no celular pode fazer mais diferença do que você imagina.

Você também pode aproveitar sua própria imaginação. Se quiser se lembrar de comprar leite, pão e ovos, antes de sair de casa, se imagine visitando cada um dos corredores do mercado onde estão os produtos da lista.

Quando chegar lá, essa ida ao mercado imaginária voltará à sua cabeça — e você terá mais chances de se lembrar de tudo que precisa.

 

Fonte: BBC

 

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Dr. Bruno Moraes

O psicólogo Bruno Moraes atua a mais de 7 anos no atendimento presencial e online de crianças, jovens e adultos. Trabalha com abordagem TCC, ou Cognitivo Comportamental e é pós-graduado em Neuropsicologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

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