Isolamento provoca desgaste familiar: como lidar com convivência em excesso - Psicólogo Mogi das Cruzes | Bruno Moraes
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Isolamento provoca desgaste familiar: como lidar com convivência em excesso

Isolamento provoca desgaste familiar: como lidar com convivência em excesso

Tampa da privada levantada, luz acesa sem ninguém na sala, louça acumulada na pia, volume alto do som no quarto, tigela do pet sem água e roupa suja largada no meio do caminho. São situações que por vezes incomodam um ou outro morador de uma casa e costumam gerar faíscas na relação doméstica. Nada que não se resolvia com pedido de desculpa, algum tempo de cara feia ou até uma gracinha sobre o assunto. Mas isso foi antes da pandemia. Passados mais de quarenta dias de isolamento social e convívio intensificado, a conjuntura vem se tornando cada vez mais cansativa e desgastante em muitos lares. Seja pelo excesso de tempo juntos (muitas vezes inédito) ou pelas dificuldades e incertezas decorrentes do surto de coronavírus, o que antes era motivo para bronca ou reclamação rotineira, hoje pode ser a razão para ligar o modo tolerância zero.

Fica a impressão de que tudo está fora do lugar e qualquer bobeira causa irritação. As mudanças provocadas com o atual contexto, que envolvem desde ameaças de saúde até instabilidade financeira, exigem demais do nosso emocional. Assim, ficamos sobrecarregados e vulneráveis a reações exacerbadas, que variam entre nervosismo, impaciência e intolerância.

O confinamento é uma condição bastante delicada, e quando compartilhado com pessoas emocionalmente instáveis, pode chegar a casos extremos de agressões e violência. Estamos vivendo um momento bastante difícil e repleto de perdas, no qual é preciso respeitar os limites de si mesmo e do outro, ser flexível e não hesitar em pedir ajuda.

O culpado é o amor

Os desdobramentos desse intensivão da convivência familiar variam conforme o estabelecimento das relações antes de ocorrer a quarentena. Na explicação da psicanalista Isabel Cristina Gomes, professora titular do Departamento de Psicologia Clínica do IPUSP (Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo), é natural que haja ansiedade por causa do desaparecimento de muitas das certezas que constituíam o nosso modo de vida. “Manter o equilíbrio em situações de muito estresse emocional depende dos recursos psíquicos que cada um possui e da criação de um ambiente harmônico e cuidadoso dentro de casa”, afirma.

Para a docente, um bom começo para reduzir as desavenças é aceitar as diferenças do outro. Além disso, por ser um contexto que “desperta angústias fortes e primitivas dentro de nós”, devido à noção mais evidente da nossa finitude e fragilidade diante da pandemia, “pode ser um estímulo para que as pessoas baixem suas defesas e deixem de se atacar”, avalia Isabel.

As origens para esses atritos e desentendimentos não estão ligadas a sentimentos de desprezo pelo outro, ao contrário, têm a ver com a dinâmica do afeto. Nossos vínculos são efetivados nesse esquema, que poderia ser comparado a “uma união meio conturbada entre o amor e o medo de perder”, segundo o psicoterapeuta Ivan Capelatto, professor convidado do curso de Medicina da Família e da Comunidade da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas. “Na presença constante, o temor da perda fica exacerbado, e costuma haver mais agressões verbais e discordâncias.”

O psicoterapeuta detalha que são mecanismos do próprio inconsciente ao amar alguém. “A afetividade é aquilo que rege as nossas relações de contato, mas o preço que pagamos é lidar com o medo.”

Não sei quantas almas tenho

Quando não há folga no convívio entre os moradores duma mesma casa, outro fator que interfere na harmonia das interações é conhecer demais o outro. Nessa maratona de estar 24h com as mesmas pessoas, é bem provável que cada um mostre o seu lado mais frágil e indefeso, suscetível a mágoas, que precisa de apoio e compreensão. Mas será que vai haver condições para esse acolhimento? De que maneiras os medos serão interpretados?</p><p>”É como se tivéssemos diferentes tipos de personalidade. A convivência facilita que a gente mostre o nosso lado mais enfraquecido e vulnerável. Torna-se um processo desgastante porque muitas vezes o outro desconhece ou não sabe lidar com a nossa versão carente, estressada, amedrontada e sobrecarregada”, explica Aline Henriques Reis, professora adjunta do curso de psicologia da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul).

O que também aumenta a carga de irritabilidade em meio ao isolamento domiciliar é o acúmulo de tarefas e a falta de privacidade, que nem sempre são percebidas pelos demais. “Quando comunico minhas preocupações e pensamentos, o outro tem a chance de entender o que está se passando comigo e as razões para estar daquela maneira.” Faz parte de uma atitude generosa consigo assumir não ser possível dar conta de tudo, e de buscar apoio dos que estão ao redor por conta do cansaço, impaciência ou outras consequências das privações.

“Em vez de reconhecer esse estado de esgotamento, acabamos sendo indiretos, fazemos birras e reclamações. Ou ainda ficamos magoados e ressentidos pois o outro não foi capaz de notar aquilo que precisávamos. O ideal é ser franco e direto no pedido de colaboração”, aconselha a docente.

Tolerância, flexibilidade e criatividade

Não são poucas as restrições a que a maioria de nós está sujeita no momento: da liberdade, de renda e de consumo, da sociabilidade, de desejos e vontades. Estamos nos despedindo do mundo da maneira que conhecíamos, e fazer as adaptações necessárias para lidar com essas novas conjunturas demanda energia e disposição. Por isso é fundamental que haja calma e respeito ao modo de funcionamento e reação do outro e de si.

“Geralmente queremos que o próximo seja uma projeção de nós mesmos ou que responda da maneira que idealizamos. Numa vivência intensa e com ameaça tão forte a nossa integridade física e psíquica, precisamos ser fortes para quebrar paradigmas e instituir o novo. Inclusive no modo de nos vermos e nos reconhecermos em nós e nos outros. Isso não é fácil”, considera Gomes.

Uma importante saída apontada pela psicanalista para esse contexto é cada integrante da família abrir mão de ter a sua verdade e contribuir na criação de um ambiente plural de escuta, onde cada um possa dizer, sentir e colaborar para o melhor de todos. É uma abertura para descobrir ou despertar trocas afetivas, o cuidado e a solidariedade. Faz parte de um exercício reflexivo de se permitir ouvir o outro e reconhecer que os vínculos de maior proximidade podem nos oferecer o suporte emocional necessário para lidarmos com as incertezas atuais.

Nesse sentido, é bastante valioso tentar entender o que estamos passando e aceitar as limitações frente à atual situação. “O equilíbrio e a disposição vão nascer conforme a quantidade de esforço para assumir a nossa impotência frente a isso tudo”, especifica Capelatto. O psicoterapeuta indica ser positivo buscar a sublimação, ao transformar ideias e prejuízos internos em arte. Reservar alguns momentos e convidar familiares para dividir essa experiência ao pintar, fazer música, inventar brincadeiras ou contar a história da própria família. “É a chance de transformar a dor em poesia, dança e teatro.”

Para isso ser possível, é fundamental estabelecer acordos na casa, numa divisão justa de tarefas e que ninguém fique sobrecarregado. Reis lembra que para evitar desgastes, é indispensável delimitar atividades e fazer escolhas. “Obrigações e preocupações aumentam o nível de ansiedade das pessoas, o que reduz a disponibilidade emocional para os relacionamentos.”

Reconhecer e falar sobre essas angústias pode contribuir bastante nessa dinâmica de gerar espaços para as necessidades de cada um. Ser compreensivo, e além de pedir, facilitar que exista momentos de lazer, de distração e de intimidade para todos. Nada mais é do que investir no autocuidado e na qualidade das relações. Internalizar que estamos fazendo o melhor que podemos com as ferramentas disponíveis no presente.

 

Fonte: UOL

 

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Dr. Bruno Moraes

O psicólogo Bruno Moraes atua a mais de 7 anos no atendimento presencial e online de crianças, jovens e adultos. Trabalha com abordagem TCC, ou Cognitivo Comportamental e é pós-graduado em Neuropsicologia pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

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