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Quarentena deixa escolas sem professores sufuciente

'Vai faltar professor no Brasil': pesquisa mostra a vulnerabilidade da educação

Levantamento do Instituto TIM demonstrou que a pandemia foi positiva para o professores

 

“Vai faltar professor no Brasil”. Essa foi uma das conclusões do economista, Flávio Vasconcellos Comim, professor da IQS School of Management (Barcelona) e responsável pela pesquisa do Instituto TIM, que mostrou o impacto da pandemia na saúde mental e bem-estar de professores brasileiros.

Para o pesquisador, os baixos salários, condições ruins, violência, segundos empregos, muito trabalho para levar para casa, baixo apreço social, entre outros fatores negativos desestimulam os profissionais, que vão abandonando o exercício. “Serão mantidos apenas alguns núcleos de excelência Os computadores vão fazer o trabalho pelos professores. Estamos juntando duas tendências: a de desvalorização do professor com a tecnologia e o resultado pode ser desastroso”, disse

Flávio Comim alerta para o risco de unir a desvalorização do professor com a tecnologia, salientando que o resultado pode ser desastroso.

O levantamento mostrou que, apesar das condições para o trabalho remoto serem adversas com 66,4% dos entrevistados relatando dificuldades de adaptação, 58% contando que não conseguem ministrar as aulas em casa sem barulho ou interrupções e 78% apresentando problemas de insônia ou excesso de sono – ficou constatado que o ambiente em sala de aula presencial é muito mais prejudicial à saúde mental dos professores.
Conflitos nas turmas e violência nas localidades onde as escolas estão inseridas foram apontados como os principais fatores negativos do trabalho presencial. Na pesquisa, 64% dos docentes responderam que já presenciaram agressão física ou verbal contra professores ou funcionários, feitas por alunos. Outros 72% relataram já ter presenciado brigas entre estudantes.

Esgotamento

A pesquisa ouviu professores do ensino fundamental em diferentes Estados do Brasil, da rede pública e privada, entre janeiro e novembro de 2020. A amostra foi calculada com um nível de confiança de 95%. Quase 80% trabalham em bairros economicamente mais vulneráveis, dando uma média de 30 horas de aulas por semana, para cerca de 28 alunos por turma. Um quarto dos entrevistados trabalha em duas ou mais escolas e 24% exercem outra atividade para complementar sua renda. Por isso, mesmo com as dificuldades de adaptação ao novo formato de aulas digitais, uma das conclusões do levantamento é que a pandemia trouxe um respiro ao bem-estar mental de quem leciona. O índice foi verificado pela escala WEMWBS (Warwick-Edinburgh Mental Well-Being Scale). De acordo com o estudo, a pandemia também reduziu o índice de Burnout entre os professores. A síndrome se manifesta quando há um esgotamento físico e emocional em relação ao trabalho.

A avaliação, por outro lado, destacou ainda mais as desigualdades da sociedade brasileira: professores pardos e negros foram mais impactados pela pandemia. Entre as pessoas negras, 76% mencionaram dificuldades de adaptação às aulas online, 64% não conseguiram trabalhar bem de casa e 83% tiveram problemas de sono durante a pandemia. O contexto familiar também retrata as diferenças: 79% dos professores negros contaram que suas famílias perderam parte da renda durante a crise sanitária, contra 61% dos profissionais brancos.

“Qualquer profissional precisa de condições de trabalho para fazer bem a sua atividade. Com o professor não é diferente. Sem um salário decente, 1/4 dos professores do ensino fundamental se vê forçado a buscar complementação de renda”, completa Comim. Para ele, sem escolas seguras, com níveis de violência inaceitáveis, o professor não tem como exigir de seus alunos, nem como manter aulas funcionais. O pesquisador enfatiza ainda que a falta de recursos ou material didático, obriga a cerca de um 1/3 dos professores a improvisar nas aulas. “A falta de contabilização do trabalho que se faz fora da sala de aula, faz com que 2/3 dos professores levem trabalho para casa”, completa, reforçando ainda que sem uma boa gestão de governos, quase metade dos professores já teve parcelamento ou atraso no salário. “Os professores não precisam de muito, apenas de condições muito básicas de trabalho, como qualquer profissional”, defende.

A pandemia destacou ainda mais as desigualdades da sociedade brasileira: professores pardos e negros foram mais impactados durante toda a quarentena.

Para o coordenador geral da APLB Sindicato, que representa os professores baianos, Rui Oliveira, a pesquisa visibiliza uma realidade enfrentada há muito pelos profissionais da área de educação no estado e no Brasil. “O neoliberalismo transformou a educação em mercadoria e para garantir o lucro a todo custo, desqualificam o profissional, precarizam as relações de trabalho, aviltam os salários, reduzem as vantagens profissionais a ponto de que a carreira não é desejada pelos mais jovens”, pontua. Para ilustrar sua fala, ele lembra que a Bahia, por exemplo, possui mais de 10 mil profissionais contratados sob o Regime Especial de Direito Administrativo (REDA) com remunerações que chegam a ser 1/3 menores que a dos profissionais concursados.

Oliveira destaca ainda a precarização da educação estabelecida pelo governo Federal que, segundo ele, distorceu o Fundeb e acabou com os concursos públicos. “Como temos um exército de desempregados, todas as vezes que um concurso pelo REDA é aberto, chovem inscrições tornando esse cenário ainda mais preocupante”, completa.

Pontos positivos

Como consequência, houve aumento do sentimento de auto-eficácia dos professores durante a pandemia e o otimismo em relação à carreira. Cerca de 45% dos entrevistados viam possibilidades de desenvolvimento e de promoções, indicador que aumentou 15 pontos percentuais nos questionários feitos mais recentemente. Mais de 80% dos docentes acreditam que suas qualificações continuarão válidas no futuro.

Para Comim, o Brasil deveria investir pesadamente na educação como fizeram todos os outros países que conseguiram se desenvolver. “Nossa pesquisa sugere que faltam recursos pedagógicos, faltam recursos físicos e digitais. O tamanho das turmas é elevado. Os salários dos professores são baixos para padrões internacionais. Mas a melhoria de um ambiente de trabalho é também uma questão de gestão e de contexto social”, esclarece. O economista diz que não existe uma única solução ou uma receita mágica. “As instituições devem tentar primeiro falar abertamente do problema do Burnout e da depressão. Esse seria um belo começo. Os gestores públicos deveriam buscar alternativas para melhorar as condições de trabalho dos professores começando por melhores salários e recursos na sala de aula”, acredita.

A pesquisa destacou que a melhoria de um ambiente de trabalho é também uma questão de gestão  e de contexto social

Procurada pela reportagem do Jornal Correio, a Secretaria Estadual de Educação(SEC) reconheceu que a pesquisa demonstra as dificuldades enfrentadas, na prática, pelas várias alternativas de realização de atividades pedagógicas durante a pandemia.  Em nota, os representantes estaduais da educação lembram que, na Bahia, a rede estadual mantém as aulas suspensas desde março de 2020, conforme decreto 19.586.

“Mesmo com a suspensão das aulas, a SEC, por meio do Programa de Atenção à Saúde e Valorização do Professor, vem desenvolvendo uma série de ações que visam o bem-estar físico e emocional dos educadores, servidores e estudantes da rede estadual de ensino”.

O comunicado lembra ainda que, no ano passado, o programa desencadeou o atendimento on-line com psicólogos, com autorização do Conselho Regional de Psicologia, por causa da COVID-19.

“A iniciativa propõe acolher, reabilitar, prevenir e promover a saúde dos envolvidos. Durante todo o ano de 2020 e ainda em 2021, o programa vem realizando lives, oficinas e encontros virtuais, bem como consultas individuais com psicólogos do programa, além de campanhas com o objetivo de conscientizar as pessoas a respeito da importância dos cuidados preventivos com a saúde. As consultas individuais podem ser solicitadas, através do e-mail:  saudedoprofessor@enova.educacao.ba.gov.br. O atendimento é realizado por telefone, WhatsApp ou pelo Google Meet, com horário marcado e de acordo com a disponibilidade da agenda”.

Esse mês, o programa disponibilizou o livreto “Rede de Atenção Psicossocial”. O material tem o intuito de esclarecer, facilitar e instrumentalizar professores, estudantes e comunidade escolar, na busca de assistência e serviços, junto aos órgãos e instituições que fazem parte da rede de apoio de atenção psicossocial, sediados nos 27 Núcleos Territoriais de Educação (NTE). A publicação, elaborada pelos psicólogos que atuam no Programa de Atenção à Saúde e Valorização do Professor, está disponível de forma gratuita no Portal da Educação através do link:

A nota da SEC salienta ainda que existem projetos de combate e prevenção à violência, com engajamento de professores e estudantes em sala de aula e também com o envolvimento das famílias, por meio dos Colegiados Escolares. “ Também são realizadas, em parceria com a Ronda Escola, há 12 anos, ações que envolvem, por exemplo, cursos de mediação de conflito, reuniões com pais e mestres e palestras com os estudantes sobre diferentes temáticas, como prevenção ao suicídio, consequências das drogas, diversidade, bullying, além de acompanhamento diárias nos arredores das instituições de ensino”, finalizou.

 

Fonte: Correio24horas

 

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