A mestra em psicologia social Suely dos Santos analisou o bullying sob o ponto de vista da educação, dividido em dois pilares: “as práticas educativas assumidas pela família e as práticas pedagógicas desenvolvidas na escola”. No mesmo programa, a psicóloga Nathalia Lopes explicou como as relações desenvolvidas dentro do contexto escolar podem contribuir para a prática do bullying.
De acordo com dados fornecidos pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em 2019, a incidência de bullying no Brasil é duas vezes maior do que a média geral das instituições de ensino em 48 países. O programa “Um Tom de resistência” desta semana abordou o tema na TV 247, e convidou para o debate a assistente social e mestra em Psicologia Social Suely dos Santos e a psicóloga e especialista em Psicologia Escolar Nathalia Lopes.
Suely aponta a educação como o principal fator responsável pela prática de bullying por parte de crianças e adolescentes. “A questão do bullying é muito preocupante. Principalmente quando a gente pensa na educação. O bullying começa a ser praticado junto com o processo de ensino e aprendizagem que é ofertado pelas escolas. Sejam elas públicas ou privadas”, disse ela, iniciando sua análise.
Suely classifica o bullying como uma das modalidades de violência. “É uma violência psicológica, que pode gerar um desdobramento da violência física. No meu ponto de vista, essa violência é aprendida e passa a ser praticada na escola, a partir da educação que a criança recebe em casa. Porque a educação tem dois pilares: as práticas educativas assumidas pela família e as práticas pedagógicas que são desenvolvidas na escola. Existe um estudo realizado pelo psicólogo Alfred Adler, que foi contemporâneo de Freud, em que ele atestou que todo ser humano precisa aprender a se socializar. E ele diz que esse aprendizado deve começar dentro de casa, a partir do primeiro ano de vida”, explicou.
athalia complementou a fala de Suely, dizendo que “como seres sociáveis, a forma como nos relacionamos com o outro, as relações que as crianças vão desenvolvendo dentro do contexto educacional, dentro do contexto escolar, contribuem para as práticas de bullying”.
Nathália emenda lembrando que “a criança e o adolescente, se formos pensar, está se socializando, aprendendo, e, depois da família, a escola é o meio em que ele mais se desenvolve. E, pensando nas relações que estão sendo desenvolvidas dentro desse contexto, o que essas crianças às vezes acabam fazendo entre elas, isso também reforça e perpetua o bullying e toda essa violência que há muitos anos está presente na nossa sociedade. Não é à toa que a gente vem fazendo campanhas de prevenção dentro das escolas, porque o bullying é um fenômeno que está aí, e constantemente precisamos estar falando e conscientizando as nossas crianças a respeito.” Suely reforça que “o ambiente influencia o tempo todo nessa prática do bullying. Se ele vai ser praticado ou não, depende de todo o contexto ao qual a criança vai se inserindo. Nada acontece por acaso.”
Entre os casos de bullying, cujo desfecho acabou sendo trágico para os assediadores, o apresentador Ricardo Nêggo Tom lembrou do ocorrido num colégio particular na cidade de Goianésia, em Goiás, onde um adolescente de 13 anos, portando uma arma de fogo que pertencia ao seu pai, um policial militar da região, matou dois colegas que praticavam bullying contra ele. Questionadas se, considerando a violência do bullying sofrido por ele, o adolescente poderia ter agido por legítima defesa, Nathália considera o tema bem complexo. “Essa pergunta é um pouco delicada, porque ela pode direcionar para várias compreensões. Eu compreendo que esse adolescente que, querendo ou não, cometeu essa violência, não teve uma rede de apoio. Por isso, precisamos pensar nas situações às quais esse jovem estava exposto. Quem estava à sua volta, como era o processo de educação dado pela família, as relações, os amigos, o grupo que ele estava inserido, a sua história de vida.”
O bullying como uma das modalidades de racismo, no caso, o recreativo, foi outra abordagem feita durante a entrevista. Suely dos Santos percebe uma diferença entre as duas práticas. Ela explica que o “racismo é algo que fere não só a pessoa, mas toda a sua descendência. O racismo tem uma carga histórica que é encharcada de subjetividades, de rancores, de revoltas, de humilhações. Quem pratica o racismo hoje está reproduzindo o processo de coisificação, ou seja, de desumanização da pessoa negra. O bullying desqualifica a pessoa a partir do jeito dela andar, se vestir, a partir do tom da sua pele. O racismo desumaniza a pessoa, todos os seus antepassados e todas as suas gerações futuras. São duas modalidades de violência diferentes, mas uma única pessoa pode ser vítima de ambas ao mesmo tempo.”
Fonte: Brasil247
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